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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Compartilhamento de vidas...

Olá caros leitores!


Acho que eu ainda não havia contado para vocês, mas além do empréstimo de livros, leitura e contação de histórias, nós, AGENTES DE LEITURA, também fazemos outras atividades com as famílias que fazem parte do projeto.


Atividades estas que são destinadas a nós, semanalmente pelo site:
http://www.institutodeleitura.com.br


Entre elas, conhecer a história das famílias, desde a infância dos pais, ao porque do nome dos filhos, momentos mais marcantes, lembranças mais antigas, objetos significativos, versões de outras histórias...


Enfim, outras atividades que vão além do livro, que faz instigar cada vez mais o COMPARTILHAMENTO de VIDAS, uma compreensão cada vez maior dos seres humanos, que é exatamente essa a magia da leitura... 






O conhecimento de um mundo além do seu!

Para mais informações sobre o projeto, e para fazer parte dele, envie um e-mail para:
agentedeleiturajorda@gmail.com

ÓTIMO DIA, ÓTIMA LEITURA!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Convite! Literatura da Mostra SESC de Artes 2012

Caros leitores!!!

Convidamos a participarem da programação de 
Literatura da Mostra SESC de Artes 2012!

Trata-se de uma programação singular, e a presença de autores, leitores e entusiastas potencializa o resultado destas ações.
Convidamos vocês a compartilharem esta programação em sites, blogs e periódicos também!
Para maiores informações envie um e-mail para: francis@sescsp.org.br ou christine@mostra.sescsp.org.br



LITERATURA - 19 A 29 DE JULHO


A Tradição Oral e Seus Narradores 
Spoken Word – Poesia Falada 
e Palavra Expandida


A Tradição Oral e Seus Narradores

Em meio às invenções comunicativas do mundo contemporâneo, a Tradição Oral persiste na voz de contadores de histórias que se destacaram nas últimas décadas do século XX. Ariano Suassuna e Guimarães Rosa, expoentes da reinvenção da oralidade na literatura brasileira, compõem este cenário de narrativas e performances.

> Informações das apresentações e horários (só clicar no link):

- A tradição oral e seus narradores / Peças e Contações
- Spoken Word / Poesia Falada

Literatura da Mostra SESC de Artes 2012 - Peças e Contações

> Dia 20, sexta, 21h 
Toumaní Kouyaté conta SUMU ou L’arbre à Palabres de griot |BFA|Toumani Kouyaté faz parte de uma linhagem de Djelis (denominados Griots pelos europeus, sendo estes mestres da palavra e das artes na África do Oeste) de Burkina Fasso. Em Sumu, leva-nos em seu barco a histórias coloridas com cantos, música e humor, em uma viagem à África. Duração: 1h10. 
SESC Ipiranga - TeatroNão recomendado para menores de 10 anos
R$ 8,00 (inteira); R$ 4,00 (usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino); R$ 2,00 (trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no SESC e dependentes).

> Dia 22, domingo,18h. 
Toumaní Kouyaté conta Aquele que Pensa Conhecer as Mulheres |BFA|Nesta segunda apresentação, Toumaní fala da relação com a sabedoria feminina. Duração: 1h10.
SESC Vila Mariana - AuditórioNão recomendado para menores de 10 anos
Grátis

> Dia 23, segunda, 19h
GUERRA, LUME E PAZ |BRA – PE|Sonetos de Ariano Suassuna são encenados por atores e cantadores, e musicados por Romero Andrade Lima, com melodias de domínio público, trazendo ainda a referência visual de iluminuras feitas pelo próprio Ariano Suassuna. Com Grupo Circo Branco. Direção e concepção: Romero de Andrade Lima. Participação especial: Ariano Suassuna.
SESC CarmoNão recomendado para menores de 12 anos
Grátis - Retirada de ingressos com uma hora de antecedência

> Dia 24, terça, 21h 
Ariano Suassuna – A Oralidade na Cultura Brasileira |BRA – PE|O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna realiza aula-espetáculo que versa sobre a oralidade na cultura brasileira. 
SESC Pinheiros - Teatro Paulo AutranNão recomendado para menores de 12 anos
R$ 32,00 (inteira); R$ 16,00 (usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino); R$ 8,00 (trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no SESC e dependentes).

> Dia 28, sábado, 19h
Hamed Bouzzine conta De Tanger à Timbuktu, ou O Caminho de Miragens |MAR - FRA|Contador de histórias marroquino radicado na França, busca na fonte das histórias dos trovadores berberes do deserto norte-africano, uma das essências do patrimônio de sua origem. Em De Tanger a Timbuktu, Hamed conta a viagem mítica e de iniciação de um contador de histórias do Saara. Duração: 1h20.
SESC Pompéia - Choperia Não recomendado para menores de 10 anos
R$ 8,00 (inteira); R$ 4,00 (usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino); R$ 2,00 (trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no SESC e dependentes).

> Dia 29, domingo, 17h
Hamed Bouzzine conta Viagens pela Vida|MAR / FRA|Em Viagem pela Vida, Hamed Bouzzine compartilha a experiência de convivência com Alpha Kouyaté, Griot da região ocidental da África. Duração: 1h15.
SESC Belenzinho - Sala de Espetáculos 1Não recomendado para menores de 10 anos
Grátis

 De 19 a 29 de julho (TODOS OS DIAS)


- Tele Guimarães Rosa Trechos extraídos da obra Grande Sertão Veredas, são transformados em tele mensagens declamadas por Antonio Nóbrega, Cacá Carvalho, Pascoal da Conceição, Rosi Campos, Zeca Baleiro e Zélia Duncan. Para ouvir as mensagens, os usuários de telefonia móvel poderão cadastrar seus números no endereçowww.sescsp.org.br /mostrasesc. 
Livre | Grátis

- Estação Grande Sertão Game criado a partir da obra Grande Sertão Veredas, do escritor Guimarães Rosa, que convida o participante a traçar a jornada do personagem Riobaldo pelo sertão. Projeto cenográfico: TG3. Conteúdo interativo: Estúdio Usinanimada.
SESC Belenzinho, Bom Retiro, Ipiranga, Santo Amaro
*Consulte dias e horários de funcionamento das unidades
Não recomendado para menores de 12 anos.
Grátis

Literatura da Mostra SESC de Artes 2012 - Spoken Word

Spoken Word - Poesia FaladaPerformances em que a palavra falada é protagonista. Narrativas em contextos que mesclam literatura, artes plásticas, cinema e música, com foco na oralidade. 

> Dias 21 (Santo Amaro) e 27 (Pompéia), sábados, às 20h e 21h30 respectivamente.
Giallos |BRA|O trio de Santo André, ABC Paulista, apresenta em seu repertório autoral a trilha sonora ritmada e saturada, influenciada pelo rock de garagem para histórias sujas e instigantes dos Giallos.
SESC Santo Amaro e SESC Pompéia - Teatro e ChoperiaNão recomendado para menores de 18 anos
R$ 20,00 (inteira); R$ 10,00 (usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino); R$ 5,00 (trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no SESC e dependentes).

> Dia 25, quarta, às 21h
Offlaga Disco Pax |ITA|Grupo italiano da cidade de Reggio Emilia, formado em 2003. Suas músicas não são cantadas, mas narradas por Collini, numa performance de spoken word.Offlaga surgiu junto a bandas formadas no final dos anos 70 e início dos 80 como Kraftwerk, Joy Division e Cocteau Twins. 
SESC Consolação - TeatroNão recomendado para menores de 12 anos
R$ 20,00 (inteira); R$ 10,00 (usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino); R$ 5,00 (trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no SESC e dependentes).

> Dia 28, sábado, 20h
Electric Barbarian |HOL / AUS / BEL / BRA|Criado pelo baixista holandês Floris Vermeulen em 2000, o grupo apresenta sua mistura única de drum’n bass, improvisações de jazz e spoken-word, performance de poesia falada conduzida pela vocalista brasileira Luanda Casella.SESC Santo Amaro - TeatroNão recomendado para menores de 12 anos
R$ 20,00 (inteira); R$ 10,00 (usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino); R$ 5,00 (trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no SESC e dependentes).

Literatura da Mostra SESC de Artes 2012 - Palavra Expandida

Palavra ExpandidaA palavra, inquieta ao longo do século XX, especialmente no terreno das vanguardas experimentais, conquistou sua independência do papel e da cultura impressa . Signos, códigos e palavras transbordam para suportes como computadores, celulares e tablets, enquanto novos territórios de leitura.

De 19 a 29 de JULHO (TODOS OS DIAS...)



> Literatura Móvel
das 10h às 20h. Nas Estações Santa Cecília e Tatuapé, a intervenção tem início em 20/7.20 escritores de diferentes nacionalidades compõem microcontos que são compartilhados via bluetooth em oito estações de metrô da cidade de São Paulo. Curadoria de textos: Marcelino Freire. Comunicação Visual: Valéria Marchesoni. 
Estações do Metrô - Ana Rosa, Clínicas, Corinthians-Itaquera, Largo Treze, Santa Cecília, Sé, Tatuapé e Vila Prudente.Livre | Grátis

> Tweet ArtTweet art é uma técnica gráfica digital feita a partir de caracteres, formando símbolos e imagens. O ilustrador Fábio Yamaji junto de Rosaria, Marão, Mavu, Gil Tokyo e Tom B. criarão imagens no formato tweet art, que serão disparadas via twitter através da hashtag #mostrasesc.
Portal SESC SP Livre | Grátis

>QR ContosQR Codes (Quick Response Codes), códigos de barras bidimensionais serão disponibilizados nas comedorias e cafés do SESC, remetendo a microcontos de 20 escritores de diferentes nacionalidades. Curadoria dos textos: Marcelino Freire. Comunicação visual: Valéria Marchesoni.
Comedorias e cafés das unidades 
Livre | Grátis

Intervenções

> ESCUTE!
Ana Teixeira |BRA-SP|
Nas paredes, caixas de som executarão dezenas de frases conhecidas como “truísmos”, ou seja, verdades tidas como incontestáveis ou evidentes por si mesmas. 
SESC Consolação - 1º andarLivre | Grátis


> Microrroteiros da Cidade
Laura Guimarães |BRA-SP|
das 11h às 17h 
Um cenário urbano gráfico criado pelo artista grafiteiro Felipe Primat receberá diariamente microrroteiros produzidos por Laura Guimarães junto ao público passante.
Tapumes da obra da futura unidade SESC Av. Paulista
Coleta de histórias: Segunda a domingo
Livre | Grátis

> CACHORRIO
Pedro Guimarães, Júlio Dojcsar, Silvana Marcondes, Nomies, Skori, Zito |BRA-SP|
A partir do texto Cachorrio, do poeta e escritor Pedro Guimarães, impressões de um cão em sua relação com moradores de rua são expressas em palavras, fotos e ilustrações, que ocupam os tapumes do SESC 24 de Maio. 
Tapumes da obra da futura unidade SESC 24 de maio
Segunda a domingo
Livre | Grátis

Oficina 


> QR Contos Dias 21 e 22 (Interlagos e Itaquera); 28 e 29 (Pompéia), sábado e domingo, das 14h às 16h
Com Luiz Bras, Luciana Miranda Pena e Wilson Freire

Oficina de criação de microcontos literários, posteriormente convertidos em QR Codes. 
SESC Interlagos, Itaquera e Pompéia
Sala de Oficinas (Pompéia) e Internet Livre (Interlagos e Itaquera)
Não recomendado para menores de 12 anos
Grátis

Você anda sumido...


Me disseram "Você anda sumido" e me dei conta de que era verdade. Eu também, fazia tempo que não me via. O que teria acontecido comigo? Não me encontrava nos lugares em que costumava ir. Perguntava por mim e as pessoas diziam "É verdade, você anda sumido". E "Que fim levou você?" Eu não tinha a menor idéia que fim tinha me levado. A última vez em que me vira fora, deixa ver... Eu não me lembrava!
Eu teria morrido? Impossível, na última vez em que me vira eu estava bem. Não tinha, que eu soubesse, nenhum problema grave de saúde. E, mesmo, eu teria visto o convite para o meu enterro no jornal. O nome fatalmente me chamaria a atenção.
Eu podia ter mudado de cidade. Era isso. Podia ter ido para outro lugar, podia estar em outro lugar naquele momento. Mas por que iria embora assim, sem dizer nada para ninguém, sem me despedir nem de mim? Sempre fomos tão ligados.
No outro dia fui a um lugar que eu costumava freqüentar muito e perguntei se tinham me visto. Não era gente conhecida, precisei me descrever. Não foi difícil porque me usei como modelo. "Eu sou um cara, assim, como eu. Mesma altura, tudo". Não tinham me visto. Que coisa. Pensei: como é que alguém pode simplesmente desaparecer desse jeito?
Foi então que comecei, confesso, a pensar nas vantagens de estar sumido. Não me encontrar em lugar algum me dava uma espécie de liberdade. Podia fazer o que bem entendesse, sem o risco de dar comigo e eu dizer "Você, hein?". Mudei por completo de comportamento. Me tornei - outro! Que maravilha. Agora, mesmo que me encontrasse, eu não me reconheceria.
Comecei a fazer coisas que até eu duvidaria, se fosse eu. O que mais gostava de ouvir das pessoas espantadas com a minha mudança era: "Nem parece você". Claro que não parecia eu. Eu não era eu. Eu era outro!
Passei a me exceder, embriagado pela minha nova liberdade. A verdade é que estar longe dos meus olhos me deixou fora de mim. Ou fora do outro. E um dia ouvi uma mulher indignada com o meu assédio gritar "Você não se enxerga, não?" E então, tive a revelação.
Claro, era isso. Eu não estava sumido. Eu simplesmente não me enxergava. Como podia me encontrar nos lugares onde me procurava se não me enxergava? Todo aquele tempo eu estivera lá, presente, embaixo, por assim dizer, do meu nariz, e não me vira.
Por um lado, fiquei aliviado. Eu estava vivo e bem, não precisava me preocupar. Por outro lado, foi uma decepção. Conclui que não tem jeito, estamos sempre, irremediavelmente, conosco, mesmo quando pensamos ter nos livrado de nós.

A gente não desaparece. A gente às vezes só não se enxerga!

sexta-feira, 6 de julho de 2012



Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.


(José Saramago. Ensaio sobre a cegueira)

Biblioteca Verde


Papai, me compra a Biblioteca Internacional 
de Obras Célebres.
São só 24 volumes encadernados
em percalina verde.
Meu filho, é livro demais para uma criança!

Compra assim mesmo, pai, eu cresço logo.
Quando crescer eu compro. Agora não.
Papai, me compra agora. É em percalina verde,
só 24 volumes. Compra, compra, compra.
Fica quieto, menino, eu vou comprar.
Rio de Janeiro? Aqui é o Coronel.
Me mande urgente sua Biblioteca
bem acondicionada, não quero defeito.
Se vier com um arranhão recuso, já sabe:
quero devolução de meu dinheiro.
Está bem, Coronel, ordens são ordens.

Segue a Biblioteca pelo trem-de-ferro,
fino caixote de alumínio e pinho.
Termina o ramal, o burro de carga
vai levando tamanho universo.
Chega cheirando a papel novo, mata
de pinheiros toda verde. Sou
o mais rico menino destas redondezas.
(Orgulho, não; inveja de mim mesmo)

Ninguém mais aqui possui a coleção
das Obras Célebres. Tenho de ler tudo.
Antes de ler, que bom passar a mão
no som da percalina, esse cristal
de fluida transparência: verde, verde.
Amanhã começo a ler. Agora não.
Agora quero ver figuras. Todas.
Templo de Tebas. Osíris, Medusa,
Apolo nu, Vênus nua... Nossa
Senhora, tem disso nos livros?
Depressa, as letras. Careço ler tudo!

A mãe se queixa: Não dorme este menino.
O irmão reclama: Apaga a luz, cretino!
Espermacete cai na cama, queima
a perna, o sono. Olha que eu tomo e rasgo
essa Biblioteca antes que pegue fogo
na casa. Vai dormir, menino, antes que eu
perca
a paciência e te dê uma sova. Dorme,
filhinho meu, tão doido, tão fraquinho.
 
Mas leio, leio. Em filosofias
tropeço e caio, cavalgo de novo
meu verde livro, em cavalarias
me perco, medievo; em contos, poemas
me vejo viver. Como te devoro,
verde pastagem. Ou antes carruagem
de fugir de mim e me trazer de volta
à casa a qualquer hora num fechar
de páginas?

Tudo que sei é ela que me ensina.
O que saberei, o que não saberei nunca,
está na Biblioteca em verde murmúrio
de flauta-percalina eternamente.

Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond.
Carlos Drummond de Andrade.
São Paulo: Abril Educação, 1980. p.67-68.

O primeiro livro de cada uma de minhas vidas


Perguntaram-me uma vez qual fora o primeiro livro de minha vida. Prefiro falar do primeiro livro de 
cada uma de minhas vidas. Busco na memória e tenho a sensação quase física nas mãos ao segurar
aquela preciosidade: um livro fininho que contava a história do patinho feio e da lâmpada de Aladim.
Eu lia e relia as duas histórias, criança não tem disso de só ler uma vez; criança quase aprende de cor
e, mesmo quase sabendo de cor, relê com muito da excitação da primeira vez. A história do patinho
que era feio no meio dos outros bonitos, mas quando cresceu revelou o mistério: ele não era pato e
sim um belo cisne. Essa história me fez meditar muito, e identifiquei-me com o sofrimento do Patinho
Feio – quem sabe se eu era um cisne?
Quanto a Aladim, soltava minha imaginação para as lonjuras do impossível a que eu era crédula: o
impossível naquela época estava ao meu alcance. A ideia do gênio que dizia: pede de mim o que quiseres, sou teu servo – isso me fazia cair em devaneio. Quieta no meu canto, eu pensava se algum dia
um gênio me diria: “Pede de mim o que quiseres.” Mas, desde então, revelava-se que sou daqueles
que têm que usar os próprios recursos para ter o que querem, quando conseguem.
Tive várias vidas. Em outra de minhas vidas, o meu livro sagrado foi emprestado porque era muito caro:
Reinações de Narizinho. Já contei o sacrifício de humilhações e perseveranças pelo qual passei, pois, já
pronta para ler Monteiro Lobato, o livro grosso pertencia a uma menina cujo pai tinha uma livraria. A
menina gorda e muito sardenta se vingara tornando-se sádica e, ao descobrir o que valeria para mim
ler aquele livro, fez um jogo de “amanhã venha em casa que eu empresto”. Quando eu ia, com o cora-
ção literalmente batendo de alegria, ela me dizia: “Hoje não posso emprestar, venha amanhã”. Depois
de cerca de um mês de venha amanhã, o que eu, embora altiva que era, recebia com humildade para
que a menina não me cortasse de vez a esperança, a mãe daquele primeiro monstrinho de minha vida
notou o que se passava e, um pouco horrorizada com a própria filha, deu-lhe ordens para que naquele
mesmo momento me fosse emprestado o livro. Não o li de uma vez: li aos poucos, algumas páginas
de cada vez para não gastar. Acho que foi o livro que me deu mais alegria naquela vida.
Em outra vida que tive, eu era sócia de uma biblioteca popular de aluguel. Sem guia, escolhia os livros
pelo título. E eis que escolhi um dia um livro chamado O lobo da estepe, de Herman Hesse. O título
me agradou, pensei tratar-se de um livro de aventuras tipo Jack London. O livro, que li cada vez mais
deslumbrada, era de aventura, sim, mas outras aventuras. E eu, que já escrevia pequenos contos, dos
13 aos 14 anos fui germinada por Herman Hesse e comecei a escrever um longo conto imitando-o: a
viagem interior me fascinava. Eu havia entrado em contato com a grande literatura.
Em outra vida que tive, aos 15 anos, com o primeiro dinheiro ganho por trabalho meu, entrei altiva porque tinha dinheiro, numa livraria, que me pareceu o mundo onde eu gostaria de morar. Folheei quase todos os livros dos balcões, lia algumas linhas e passava para outro. E de repente, um dos livros que 
abri continha frases tão diferentes que fiquei lendo, presa, ali mesmo. Emocionada, eu pensava: mas
esse livro sou eu! E, contendo um estremecimento de profunda emoção, comprei-o. Só depois vim a
saber que a autora não era anônima, sendo, ao contrário, considerada um dos melhores escritores de
sua época: Katherine Mansfield.
                                                 
Publicado originalmente no Jornal do Brasil em 24 de fevereiro de 1973.
LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. 4. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1994. p. 491-492.

Cavalinho de vento...



Quem me dera ter agora
Um cavalinho de vento
Para dar um galopinho
Aonde está seu pensamento...

Programação Cultural


quarta-feira, 4 de julho de 2012






Os livros são pequenos pedaços do incomensurável...


Os livros são os túmulos de quem não pode morrer!

A vida...

A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba...

domingo, 1 de julho de 2012

Um jardim...


Um livro é como um jardim dentro do bolso!


Livro fechado?!



Livro fechado...

Ah, é apenas um calhamaço de papel...